Tempo de qualidade na hora da alimentação
texto de Lilian Meira, nutricionista do Colégio Carbonell
Com a vida corrida dos tempos atuais, estabelecer uma rotina no dia a dia é uma tarefa cada vez mais desafiadora. A rotina ajuda na dinâmica da família, permitindo regularidade nos horários de sono, refeições, banho, estudo, brincadeiras e no desenvolvimento de outros hábitos importantes para a saúde e bem-estar, disciplina, organização e compromissos coletivos.
Falando em momentos das refeições, posso dizer que promover uma alimentação saudável às crianças vai além de só escolher alimentos naturais e montar um pratinho colorido e equilibrado. O ambiente e o comportamento durante as refeições são parte dessa alimentação saudável.
Temos observado um crescente aumento do uso de telas durante a refeição pelas crianças, onde os pais ofertam o aparelho celular prontinho no canal que o filho mais gosta e, no mesmo instante, justifica dizendo: “ele só come assistindo, senão não come nada”.
O uso de telas durante a refeição traz inúmeros prejuízos à saúde das crianças. Quando uma criança está na frente de uma tela, toda a concentração está no que está vendo e ouvindo, quando, na verdade, ela deveria estar com o foco total nos alimentos que estão no prato. Isso atrapalha no desenvolvimento dos sentidos, como paladar, já que vai perdendo a habilidade de perceber os sinais de saciedade enviados pelo corpo; não percebe as texturas dos diferentes alimentos — daí a recusa dos vegetais em um determinado período da infância — nem a temperatura e sabores que estão sendo oferecidas na refeição. Outra questão é que a mastigação não é treinada e desenvolvida, aumentando o risco de engasgos, os sentidos — paladar, olfato e tato — passam despercebidos e o ato de comer se torna mecânico, sem interação e memórias afetivas.
A conexão entre a família e a comida também é uma parte valiosa na “qualidade” da alimentação e terá um impacto duradouro na saúde das crianças. Nós, pais, somos responsáveis pelos filhos, de modo que a herança que deixamos para eles no futuro depende do dia a dia na nossa casa, hoje.
O momento da refeição é um ato social: sentar-se à mesa, agradecer, partilhar experiências e receitas do que está sendo servido em um ambiente tranquilo e acolhedor é uma boa maneira de treinar as habilidades da criança. O uso dos talheres, colocando alimentos nele e levando até a boca, a atenção plena nessa atividade, sem distrações, fazem toda a diferença.
Que tal deixarmos de lado algumas falas?
- “Meu filho só come bem com o celular na mão”.
- “A tela distrai e ele come tudo”.
- “O celular acalma e, assim, consigo colocar toda comida na boca dele”.
- “Nesse restaurante não tem nada para criança fazer, então o desenho vai deixá-la quietinha e, assim, consigo conversar com meus amigos”.
- “É só na hora do jantar que ela assiste desenho”.
- “Ela tem a mesinha em frente à TV e, assim, come se distraindo um pouco”.
A educação nutricional é um dever da família e ela se estende no ambiente escolar. Negligenciar o dever não é evitar o cansaço no momento presente, é aumentar o cansaço na ocasião futura. O momento da refeição em família, todos os dias, estará ali.
O exemplo vem de casa.